quinta-feira, 29 de abril de 2010

Paixão Barbosa

O Senado parece ser mesmo um caso perdido. Depois de tantos escândalos em 2009, a Mesa Diretora decidiu fazer de conta que pretendia moralizar pelo menos as relações trabalhistas na Casa e implantou um sistema de cartão de ponto eletrônico. De cara, os próprios dirigentes trataram de isentar do registro os diretores, ocupantes de cargos de confianças e outros tantos, que praticamente ficou esvaziado o intuito moralizador.

Mas, como no Senado tudo é superlativo, já se descobriu um esquema de fraude para garantir o pagamento de horas extras, menos de uma semana depois da implantação da medida. Cinco servidores do Senado fraudaram os registros, marcando horas extras na folha de ponto do computador do Senado a partir dos computadores de suas casas, sem efetivamente estarem no Senado trabalhando.

Foi aberta uma comissão de sindicância para investigar o caso e os funcionários podem ser demitidos. É claro que as demissões só ocorrerão se os padrinhos dos servidores não tiverem força suficiente para transformar tudo num “mal-entendido”.

http://politicaecidadania.atarde.com.br/?p=5175

Como ficariam alguns títulos de filme, se o tradutor fosse baiano:

Uma Linda Mulher - Piriguete Bonita Como A Zorra.

Quem Vai Ficar Com Mary? - Quem Vai Lascar Maria Em Banda?

Riquinho - Barãozinho

Velocidade Máxima - O Buzú Avionado

Os Bons Companheiros - Os Corrente

O Paizão - O Grande Painho

A Morte Pede Carona - A Misera Quer Pongar

Ghost - O Encosto

O Poderoso Chefão 1 - ACM

O Poderoso Chefão 2 - ACM Júnior

O Poderoso Chefão 3 - ACM Neto

O Exorcista - O Lá Ele

Táxi Driver - O Taquiceiro

Corra Que A Policia Vem Aí - Se Pique Que Os Meganha Tão Descendo

O Senhor dos Anéis - O Coroa Dos Balangandans

Janela Indiscreta - Vizinho Na Cocó

Velozes e Furiosos - Ariscos e Virados No Istopô

Esqueceram de Mim - Me Crocodilaram

Forrest Gump - O Culhudeiro

Clube da Luta - Os Comedor de Pilha

O Cavaleiro das Trevas - O Jagunço do Brêu

Silêncio dos Inocentes - O Morta-Fome

Cidade de Deus - Bairro da Paz

Mamma Mia! - O Paí Ó

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!" Sócrates, filósofo grego

PASSEIO SOCRÁTICO

Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China.. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra!

Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.
Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse..

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo.

E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas... Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald's...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:
'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"

Frei Betto